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Fabrício Caldas/Numa Oliveira

De 1909 a 1929, Adolpho Lutz correspondeu-se com a família de um portador do mal de Hansen, residente no estado do Maranhão, Nordeste do Brasil. Não possuímos as cartas enviadas pelo cientista; ainda assim, sua correspondência passiva retrata, de maneira única, aspectos da doença que transcendem sua realidade física, inclusive a relação muito particular entre o médico, o menino que cresce sob seus cuidados, até tornar-se rapaz, e os familiares deste, todos enredados no drama social criado pela lepra, uma doença que infligia marcas infamantes tão dolorosas quanto as lesões físicas e os efeitos colaterais dos remédios usados para tratá-las.

As cartas pertencem ao Arquivo Adolpho Lutz depositado no Museu Nacional da Universidade Federal do Rio de Janeiro (BRMN, Fundo Adolpho Lutz pasta 216). Foram recuperadas e tratadas pela equipe do projeto “Adolpho Lutz e a história da medicina tropical no Brasil”.

Fabrício Caldas de Oliveira, dono de engenho e talvez médico, viajou para São Paulo em 1906 com o filho, Numa Pires de Oliveira, para que fosse examinado por Adolpho Lutz, então diretor do Instituto Bacteriológico daquele Estado.

As cartas enviadas a Adolpho Lutz entre fevereiro de 1921 e setembro de 1923 mostram a luta para manter a doença estabilizada, e o desejo de experimentar tratamentos alternativos que eram noticiados pelas folhas diárias. Em 1924, a doença retorna mais agressiva, mas com a ajuda de Lutz e os cuidados incessantes da família, Numa de Oliveira é mantido num patamar controlado.

Em 1927, Fabrício, seu pai, que ficara hemiplégico em 1918, sofre novo ataque e fica impossibilitado de escrever. A última fase da correspondência com Lutz passa, então, a ser mantida pelo próprio paciente. A doença, em fase mais agressiva, já não responde como antes ao tratamento à base de chalmugra. Nas cartas a seu médico, Numa relata o intenso sofrimento ocasionado pelas lesões e a falta de ar. Lutz combina as injeções de chalmugra com a ingestão do Salol e o uso de ictiol nas feridas. A última carta da família Oliveira ao cientista de Manguinhos, escrita às vésperas do Natal de 1929, revela o desespero do paciente e nos dá a impressão de que um triste desfecho aguardava o desenrolar desse drama*.

*Veja versão completa deste texto no segmento Sobre Lutz.

Veja a correspondência