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Jorge Clarke Bleyer (1867-1955)

Jorge Clarke BleyerGeorg Carl Adolf Bleyer nasceu em Hannover, Alemanha, em 21 de janeiro de 1867. Estudou no 1o Ginásio Real de Hannover e, em seguida, na Real Escola Técnica Superior de Hannover, pela qual diplomou-se em ciências naturais em 1888. Formou-se em medicina pelo University College de Londres (1891) com uma tese sobre a fauna ofídica da Alemanha, estudo que lhe valeu o convite para integrar a congregação dos lentes daquela universidade.

Bleyer foi profundamente influenciado pela leitura dos livros do naturalista alemão Karl von den Steinen (1855-1929), primeiro estudioso a registrar os hábitos e costumes dos povos nativos do Brasil Central. Steinen realizara duas expedições ao Xingu na década de 1880, deixando um amplo levantamento cartográfico e etnográfico da região. Estimulado pelos relatos de Steinen, Bleyer, que ganhara como presente de formatura uma viagem à Índia e à América do Sul, aportou no Brasil em 1892. Depois de percorrer os lugares visitados por Steinen, acabou fixando-se em Blumenau, Santa Catarina.

Jorge Bleyer foi um dos pioneiros da medicina tropical, da antropologia e da arqueologia no Brasil, tendo desempenhado papel fundamental na instituição da higiene pública em Santa Catarina. Atuou inicialmente como clínico no hospital de Blumenau e no atendimento aos moradores da cidade e das regiões vizinhas. Nas visitas aos enfermos, procurava divulgar os princípios de higiene que embasavam o moderno sanitarismo europeu. Preocupava-se especialmente com a transmissão de doenças por micróbios e sua disseminação por meio de insetos.

Em 1900, descreveu no periódico do Instituto de Medicina Tropical de Hamburgo o caso fatal de uma mulher vitimada pela destruição dos olhos por larvas de moscas. Cinco anos depois, publicou estudo sobre a miíase, enfermidade vulgarmente conhecida como bicheira, transmitida por tabanídeos. Por esse trabalho, foi indicado membro correspondente da Academia Nacional de Medicina em setembro de 1905.

Em 1907, publicou artigo em O Correio Lajeano alertando a população sobre os modos de prevenção de diversas enfermidades, principalmente da lepra. Embora partidário das teses contagionistas, acreditava, talvez sob a influência de Adolpho Lutz – um de seus principais interlocutores no Brasil –, que a doença pudesse ser transmitida por algum inseto hospedeiro. Em 1919, foi o primeiro a identificar a doença de Chagas em Santa Catarina, tendo sido autor do regulamento sanitário que balizaria a atuação da Inspetoria de Higiene no estado. Em seu trabalho como sanitarista, liderou o combate a focos de varíola, febre tifóide e até da gripe espanhola.

Bleyer foi também um defensor da causa indígena. De sua atividade como etnólogo, resultaram importantes trabalhos sobre as diversas doenças que afligiam as populações nativas e sobre a origem de nossos primeiros habitantes. Em 1903, visitou, a pedido de Steinen, o aldeamento dos kaingang, em Palmas, no Paraná. Observou, então, que as crianças kaingang apresentavam a mesma mancha azulada que, segundo Baez, caracterizava a raça mongólica e que talvez explicasse a origem do homem americano. Em 1904, publicou um alentado estudo sobre os índios botocudos. Como médico da Estrada de Ferro São Paulo–Rio Grande do Sul, função que exerceu de 1905 a 1908, travou contato com várias comunidades indígenas remanescentes.

Nas várias expedições que realizou procurava reunir os indícios que ajudassem a explicar a origem do homem no Brasil. Evolucionista, era partidário da tese segundo a qual a América teria sido habitada, originalmente, por uma “raça” primitiva que, anos mais tarde, teria se fundido com os povos emigrados da Ásia e de outras regiões do globo.

Vários de seus numerosos achados arqueológicos, que incluem peças de fósseis humanos e diversos artefatos singulares, foram doados para instituições científicas no Brasil e na Europa, como, por exemplo, o Museu Nacional do Rio de Janeiro, o Museu de História Natural de Londres e a Escola Real de Medicina de Dublin. Muitas de suas investigações permanecem ainda inéditas, aguardando publicação.

Jorge Clarke Bleyer faleceu em 1955.

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