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Bertha Lutz e a preservação da memória de seu pai

O centenário de nascimento de um grande cientista

Em junho de 1953, a Comissão criada no Rio de Janeiro pelo Conselho Nacional de Pesquisas fixou metas para a comemoração do centenário de Adolpho Lutz: preparo de um volume com a bibliografia completa do homenageado; reimpressão dos trabalhos mais importantes, de difícil obtenção; publicação de uma biografia; colocação, em cinco grandes institutos científicos brasileiros, de suas obras completas microfilmadas; publicação do álbum sobre fauna anura brasileira, iniciado pelo homenageado e continuado por sua filha, Bertha Lutz; cunhagem de medalhas; ereção de um busto do cientista defronte ao Instituto Adolfo Lutz (São Paulo); impressão de um selo postal com sua efígie.

Esse ambicioso programa seria impensável sem os esforços envidados por Bertha para localizar os textos publicados pelo pai e obter cópias ou originais, por meio de trabalhosa correspondência com instituições e personalidades com as quais Lutz mantivera contato. Bertha baseou-se na listagem bibliográfica organizada por Herman Lent, em 1935, corrigida por Arthur Neiva e Assuerus Hippolytus Owermeer e publicada nas Memórias do Instituto Oswaldo Cruz, em 1941, como apêndice do necrológio escrito por Neiva.

Inauguradas oficialmente em 15 de dezembro de 1955, as comemorações do centenário de nascimento de Adolpho Lutz ficaram aquém do que havia sido planejado. Publicou-se um opúsculo com bibliografia mais completa: Adolpho Lutz (1855-1940): vida e obra do grande cientista brasileiro (1956). O texto introdutório, bem sintético, estava longe de constituir “biografia elaborada por moderna técnica”, com utilização de entrevistas “com pessoas que conheceram de perto o homenageado”. A publicação mais importante feita então foi o volume 15, número único, da Revista do Instituto Adolfo Lutz, comemorativo do centenário de seu nascimento, reunindo dez artigos que contemplavam dados biográficos, mostravam Lutz como entomologista, seus estudos em protozoologia, bacteriologia, micologia, helmintologia, zoologia e medicina veterinária, e suas ações como sanitarista. Também fez parte das comemorações o trabalho de Fernando Cerqueira Lemos, publicado em 1954, no mesmo periódico, sobre as atividades do Instituto Bacteriológico, desde a sua fundação, em 1892, até 1940.

Foi impresso o selo postal com a efígie de Adolpho Lutz, mas o busto seria inaugurado somente na década de 1960, por ocasião das comemorações do Jubileu de Prata do Instituto Adolfo Lutz. Não chegaram a ser cunhadas as medalhas que seriam distribuídas a instituições científicas. As obras de Lutz foram microfilmadas, depositando-se conjuntos impressos em papel fotográfico nos institutos Adolfo Lutz e Oswaldo Cruz. Resta apenas o do instituto paulista, encadernado em couro, em vários volumes, e lá se encontram, também, rolos de microfilme que serviram de matrizes para as cópias em papel. O arquivo organizado por Bertha no Museu Nacional contém outro conjunto de fotocópias, desagregadas. Não foram publicados os trabalhos mais importantes ou inacessíveis do cientista, nem o álbum sobre fauna anura brasileira.

Entre as sessões solenes realizadas então destacaram-se, no Rio de Janeiro, as da Academia Brasileira de Ciências, Academia Nacional de Medicina, Sociedade de Biologia e Sociedade de História da Medicina; em São Paulo, a sessão conjunta da Academia Paulista de Medicina e da Associação Paulista de Medicina; em Minas Gerais, a sessão da Associação Médica Mineira.

Entre as homenagens internacionais sobressai a publicação de Estudios de zoologia y parasitologia venezolanas com trabalhos que Lutz desenvolveu na Universidad Central de Venezuela.

Uma exposição temporária sobre sua obra de sanitarista teve lugar em São Paulo, no Palácio de Saúde Pública. Fechando o ciclo de homenagens, o Museu Nacional promoveu sessão solene em 4 de janeiro de 1956, presidida pelo ministro da Saúde, durante a qual foi inaugurada uma exposição que permaneceu aberta ao público por várias semanas.