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A entomologia médica na ordem do dia

Lutz, mosquitos e doenças

Havia muito tempo Lutz estava atento aos mosquitos como transmissores de doenças, cogitando, já em 1886, no papel que poderiam desempenhar na propagação da lepra. Lutz vinha estudando os artrópodes à luz de problemáticas zoológicas e parasitológicas mais amplas, não necessariamente médicas, e relativamente independentes daquelas que eram exploradas pelos caçadores de micróbios. Quando estivera em Hamburgo, em 1886, Lutz estreitara os laços com zoólogos germânicos e, durante a estada no Havaí, coletara espécimes para amigos e museus da Alemanha.

A correspondência com Pfeiffer, no final da década de 1880, mostra que discutiam malária, pebrina, sarcosporídios, esporozoários e até mesmo crustáceos braquiópodes. O médico alemão, mais conhecido por seus trabalhos em bacteriologia, declarou que estava feliz por “finalmente encontrar um colega com os mesmos interesses” e observou que só muito lentamente progrediam as pesquisas combinando zoologia e medicina. Durante a estada de Lutz no Havaí, Pfeiffer indicou seu nome a von Schönfeldt, um oficial alemão que colecionava besouros. Além de coletar material para ele, o médico brasileiro enviou ao Museu de História Natural de Hamburgo crustáceos, caracóis, miriápodes, ortópteros, hemípteros, coleópteros e outros grupos de insetos.

Ao regressar ao Brasil, Lutz continuou a coletar material zoológico e a trocar espécimes e informações com pesquisadores alemães. Essas práticas foram intensificadas e ganharam maior amplitude geográfica depois que a malária colocou na ordem do dia os estudos em entomologia médica.

Em 1898 Lutz descobriu a malária silvestre e o mosquito que a transmitia em águas armazenadas em bromélias. Passou a coletar outros mosquitos que se reproduziam em bromélias e tentou criá-los em laboratório. Obteve espécimes de Joinville e da zona compreendida entre Santos e Conceição, com a ajuda de uma rede ainda incipiente de coletores que, em pouco tempo, conseguiria estender a todo o Brasil e a vários países estrangeiros. Nesse intervalo, a teoria de Finlay sobre a transmissão da febre amarela por mosquitos foi comprovada, com importante participação de Adolpho Lutz, em São Paulo. Nos anos seguintes, o cientista brasileiro manteve proveitosa troca de informações com Howard, Coquillett e outros entomólogos norte-americanos no tocante à taxonomia, distribuição geográfica e biologia de insetos ligados a doenças humanas, animais e vegetais.

A primeira observação sistemática de Lutz sobre mosquitos transmissores de doenças foi anexada a um artigo publicado em 1901 por Emílio Ribas (“O mosquito como agente da propagação da febre amarela”). A nota de Lutz dizia respeito a duas espécies comumente encontradas em domicílios, de ampla distribuição geográfica, ambas transmissoras de doenças, mas só uma vinculada à febre amarela – o Culex taeniatus. É interessante notar que tanto Lutz como Theobald tiveram, a princípio, dificuldade em identificar corretamente essa e outras espécies em virtude da ampla distribuição e da diversidade de nomes atribuídos em cada lugar. Segundo Lutz, o C. taeniatus era encontrado no interior das casas, no litoral e no interior, mas não na cidade de São Paulo. De início, não o associou à febre amarela, mas em carta enviada a Theobald, em janeiro de 1901, disse que vinha dando especial atenção a essa espécie, cuja distribuição coincidia com a da doença. Somente em fins de 1901, Theobald, ao criar o gênero Stegomyia, incorporou a ele, como Stegomyia fasciata, as espécies Culex fasciatus e Culex taeniatus.