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  • Introdução
  • Origens familiares e formação (1855-1881)
  • Volta ao Brasil. Novas viagens (1881-1892)
  • No Instituto Bacteriológico de São Paulo (1893-1908)
  • A mudança para o Rio de Janeiro (1908-1940)
  • Novos estudos sobre a Lepra
  • A herança e os herdeiros de Adolpho Lutz
  • A febre amarela entra no debate 

    Febre amarela em Cuba

    Em junho de 1900, desembarcou em Cuba a delegação de bacteriologistas chefiada por Walter Reed e integrada pelos doutores Jesse William Lazear, James Carroll e Aristides Agramonte. As tropas norte-americanas, que haviam ocupado a ilha em fevereiro de 1898, vinham sofrendo consideráveis baixas em conseqüência da febre amarela. Em 25 de junho, Reed distribuiu as tarefas entre os membros da comissão conforme as instruções do cirurgião geral George Sternberg, cuja maior preocupação era refutar a descoberta de Sanarelli, recém-confirmada por uma comissão médica do Marine Hospital Service. Somente em 11 de agosto Lazear iniciou experiências com mosquitos fornecidos por Carlos Juan Finlay, enquanto Carroll e Agramonte prosseguiam os estudos sobre o bacilo icteróide. No fim daquele mês, foram obtidos os dois primeiros casos positivos de infecção pelo mosquito incriminado pelo médico cubano. Em 25 de setembro ocorreu a trágica morte de Lazear em conseqüência de uma picada acidental. As investigações foram, então, bruscamente reorientadas do bacilo icteróide para a hipótese da transmissão culicidiana da febre amarela, e, mais do que depressa, Walter Reed apresentou “Nota preliminar” a esse respeito à 28ª reunião da American Public Health Association, em Indianápolis, nos Estados Unidos, em outubro de 1900. Em seguida, tomou a si a tarefa de completar os trabalhos iniciados por Lazear.

    As experiências que Reed concebeu foram realizadas entre novembro de 1900 e fevereiro de 1901 no Campo Lazear, nas imediações de Quemados, em Cuba. Voluntários recrutados entre imigrantes e soldados norte-americanos cumpriram quarentena antes de serem picados por mosquitos infectados. A primeira série teve por objetivo confirmar que eram os hospedeiros intermediários do “parasito” da febre amarela. Dos seis voluntários picados, cinco contraíram a doença. A experiência seguinte transcorreu numa sala dividida por tela metálica em dois ambientes. Num foram colocados mosquitos infectados e um voluntário que se deixou picar várias vezes. No ambiente protegido permaneceram duas testemunhas, por vários dias, sem contrair a doença. A intenção era desfazer a arraigada idéia de que o ar, veículo de miasmas e germes, pudesse transmitir a febre amarela. A experiência provava que uma habitação só era infectada quando continha mosquitos em condições de transmitir o “parasito”.

    Na segunda série de experiências, análogas àquelas realizadas um século antes pelos partidários da não contagiosidade de febre amarela, três voluntários ficaram confinados, durante vinte noites consecutivas, num quarto repleto de objetos impregnados de vômitos, fezes e urina de doentes falecidos em conseqüência da doença. Os voluntários nada sofreram. Invalidou-se, assim, mais uma vez a crença na contagiosidade dos fomites e os procedimentos dela decorrentes: desinfecção de objetos supostamente contaminados pelos doentes.

    Essas experiências formam um divisor de águas na história da febre amarela. Afastaram a saúde pública das intermináveis querelas sobre sua etiologia e viabilizaram ações eficazes contra as epidemias nos núcleos urbanos litorâneos da América. Foi importante a confluência, em Cuba, dos médicos norte-americanos, voltados para um programa de pesquisas bacteriológicas, com os ingleses, que exploravam a fértil problemática dos vetores biológicos de doenças. Em 1900, Walter Myers e Herbert. E. Durham, da recém-fundada Liverpool School of Tropical Medicine, iniciaram uma expedição ao Brasil para investigar a febre amarela. Cuba foi uma escala dessa viagem que resultou na implantação de um laboratório que funcionou intermitentemente na Amazônia até a década de 1930. Durham e Myers traziam uma hipótese genérica – a transmissão da febre amarela por um inseto hospedeiro –, que ganhou maior consistência com as informações recolhidas naquela ilha. Se a comissão norte-americana não tivesse enveredado por esse caminho, talvez a teoria de Carlos Juan Finlay houvesse sido confirmada pelos ingleses, no norte do Brasil.