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Novos trabalhos em dermatologia

A Doença de Lutz

Em 1908, Lutz publicou em O Brasil-Médico sua principal contribuição à dermatologia brasileira: a descoberta no país, pela primeira vez, de uma doença que se caracterizava por lesões muito graves: úlceras que tomavam conta da boca, destruíam a mucosa da gengiva e o véu palatino, com dolorosa repercussão ganglionar. Lutz qualificou-a como micose pseudococcídica, depois de identificar o fungo que a causava e seu modo característico de reprodução. As semelhanças com micoses descritas pouco tempo antes na Argentina e nos Estados Unidos levaram o cientista brasileiro a incluir a sua num grupo que batizou de hifoblastomicoses americanas.

Uma década depois, continuava mal determinada a nomenclatura da afecção. Os autores norte-americanos chamavam-na blastomicose sul-americana para diferenciá-la da doença descrita por Gilchrist, a blastomicose sul-americana. Os sul-americanos usavam a denominação blastomicose brasileira, doença de Lutz ou de Lutz–Splendore–Almeida, pois Splendore foi o primeiro a cultivar o cogumelo patogênico, e Almeida, o autor do primeiro estudo abrangente sobre a doença.

O trabalho publicado por Lutz era produto de minucioso estudo iniciado em 1905, quando examinou seu primeiro paciente. Apesar de notar certa semelhança entre as lesões por ele apresentadas e um cancro epitelial, Lutz nunca tinha visto nada parecido na boca de um indivíduo. Num fragmento de tecido extirpado dessas lesões, localizou tubérculos repletos de pseudococcídios. Ainda em 1905, apresentou esse caso clínico, juntamente com as culturas do fungo, à Sociedade Científica de São Paulo.

Naquele mesmo ano, Lutz encontrou o segundo caso que estudou. Começou então a reavaliar casos que vira, ou de que ouvira falar no passado e não soubera classificar, considerando-os, agora, suspeitos da doença que descrevia. Somente o exame microscópico poderia estabelecer o diagnóstico diferencial da “hifoblastomicose pseudococcídica” com doenças que poderiam ser confundidas com ela: o escleroma, o escorbuto, a bouba, a sífilis e às vezes até a tuberculose.

Considerando as classificações e a terminologia do período, Lutz conseguiu chegar às suas conclusões. As blastomicoses abrangiam três grupos de doenças. O primeiro era constituído por esporotricoses; o segundo, formado por doenças causadas por organismos que cresciam da mesma forma nos tecidos e na cultura; o terceiro tinha por agente os hifoblastomicetos, que se pareciam com o fungo de sapinho. As formas encontradas nos tecidos não pareciam cogumelos, porque eram redondas, com membrana exterior tão espessa que lembravam coccídios enquistados ou ovos de entozoários.

Lutz descreveu não somente o cogumelo, que classificou no grupo dos blastomicetos, como os sintomas da doença e os resultados obtidos com os tratamentos testados. Em seu estudo, deu importância também ao modo de infecção, à virulência do agente patogênico no organismo do paciente e à resistência deste, aspectos valiosos para a compreensão da dinâmica das micoses sistêmicas.

A descoberta da doença de Lutz ensejaria diversos estudos mais detalhados na década seguinte.