Pesquisa avançada na base trajetória Pesquisa avançada em todas as bases

Todas as palavras (AND)    Qualquer palavra (OR)

A retomada dos estudos sobre a lepra

Desde o início de sua carreira profissional, Adolpho Lutz interessou-se pela lepra. Publicou artigos a esse respeito quando trabalhou em Limeira, em Hamburgo e no Havaí. Chegou mesmo a fazer o esboço de um tratado sobre lepra (1891-1892) que permaneceu inédito. No período em que esteve à frente do Instituto Bacteriológico de São Paulo (1893-1908), a lepra foi objeto de estudos eventuais, pois tiveram prioridade questões mais candentes para a saúde pública do estado, como a difteria, a febre tifóide, o cólera e as disenterias amebianas e bacilares, a peste bubônica, a malária e a febre amarela.

A lepra aparece marginalmente nos relatórios que Lutz escreveu então. Em 1893, tentou novamente cultivar o bacilo de Hansen, sem obter resultados. Durante todo o período no Bacteriológico, realizou apenas três autópsias, número que contrasta com as dezenas feitas para esclarecer as doenças que grassavam epidemicamente no estado.

Depois que se transferiu para o Instituto Oswaldo Cruz, Lutz, que já vinha estudando os transmissores da febre amarela e malária, retomou as investigações sobre os insetos hematófagos que pudessem hospedar o microrganismo da lepra. A doença ascendia na hierarquia de preocupações sanitárias, pois o número de suas vítimas parecia aumentar no Rio de Janeiro e em outras cidades brasileiras. Em Manguinhos, Lutz encontrou o tempo e as facilidades laboratoriais para retomar uma linha de investigação que permanecera sufocada sob as pesadas rotinas da saúde pública paulista. Um estímulo para isso foi sua participação na Comissão de Profilaxia da Lepra, em 1915, num momento em que reacendiam as controvérsias sobre o modo de transmissão e a profilaxia da doença.

A partir de então, Lutz publicou diversos trabalhos sobre a lepra, manteve-se em dia com a bibliografia internacional sobre o tema, envolveu-se nos debates científicos nacionais em torno da doença, participou da organização de congressos relacionados a ela e correspondeu-se com leprologistas do mundo inteiro. Ainda que tenham sido inconclusivos os resultados de suas pesquisas, Lutz sustentou até o fim da vida a teoria da transmissão da lepra por mosquitos, empenhando nessa campanha todo o peso de sua autoridade científica. Sempre considerou o isolamento das vítimas da lepra uma medida ineficaz e cruel. No entanto, pragmaticamente, admitiu que isso poderia dificultar a disseminação da doença se os leprosários incluíssem entomologistas entre seus quadros técnicos e adotassem medidas eficientes de proteção contra os mosquitos.