Pesquisa avançada na base trajetória Pesquisa avançada em todas as bases

Todas as palavras (AND)    Qualquer palavra (OR)

Em Hamburgo: estudos sobre a lepra

Pesquisas sobre microrganismos e doenças de pele

Adolpho Lutz e Paul Gerson Unna conheceram-se na 58a Reunião de Naturalistas e Médicos Alemães ocorrida em Estrasburgo, em 1885. Lutz apresentou curta comunicação sobre uma doença que observara em mais de duas dezenas de crianças nos arredores de Limeira. Possivelmente, Unna tinha conhecimento dos trabalhos que o médico brasileiro vinha publicando em periódicos germânicos.

Tudo indica que foi a lepra que os aproximou. Um dos prédios do Dermatologicum, famosa clínica fundada por Unna em 1884, destinava-se às vítimas da doença, que provinham principalmente da América do Sul. O dermatologista de Hamburgo iniciou, então, estudos aprofundados sobre a bacteriologia, patologia e terapêutica do mal. Naquele mesmo ano, participou de um congresso de medicina em Copenhague, em que o tema esteve em pauta, e, em seguida, visitou leprosários noruegueses, estabelecendo proveitosa relação com Gerhard Armauer Danielssen e Carl W. Boeck. Em 1848, estes haviam estabelecido, em bases científicas, as características distintivas da doença.

Em 1885, Unna tratou de uma paciente alemã que adquirira a lepra em viagem ao Brasil, e obteve resultados satisfatórios com o pirogalol. Esse caso forneceu-lhe dados para um trabalho sobre a histologia e a terapêutica da doença, que apresentou em congresso de medicina interna, em Wiesbaden.

Adolpho Lutz chegou à clínica de Unna em abril de 1885, e lá permaneceu até o ano seguinte, quando certamente presenciou a criação dos cursos de pós-graduação do Dermatologicum, que assim ampliava sua influência como centro de especialização entre estudantes oriundos de diversos países. Lá Adolpho Lutz estudou a bacteriologia da lepra e a estrutura e biologia de germes relacionados a outras doenças dermatológicas. Desenvolveu com Unna um novo método de coloração e descreveu, sob nova luz, coisas que a outros observadores tinham parecido anomalias ou acidentes esporádicos nos micróbios da lepra. Empregou, também, variações do método de coloração de Ehrlich, conseguindo diferenciar o agente da lepra de outros microrganismos, com exceção do bacilo da tuberculose, descoberto por Robert Koch em 1882. Estudou, então, esse bacilo, que apresentava intrigantes analogias com aquele descrito por Hansen.

Em artigo publicado em 1886 em Monatshefte für Praktische Dermatologie, contestou o gênero Bacillus em que eram classificados os microrganismos de Hansen e Koch, e propôs novo gênero para abrigá-los, classificando o primeiro como Coccothrix leprae. A proposta de Lutz foi suplantada, dez anos depois, pela de Karl B. Lehmann e R. O. Neumann, que enquadraram os agentes da lepra e da tuberculose no gênero Mycobacterium.

No artigo de 1886, Lutz já enunciava a suspeita de que a transmissão da doença pudesse envolver alguma espécie de mosquito, tese que sustentaria por toda a vida.

Em outro artigo publicado no periódico editado por Unna, também de 1886, Lutz procurou detalhar as características dos microrganismos que poderiam ser agrupados sob o novo gênero que julgava necessário criar: não apenas o de Hansen, mas também os supostos agentes da sífilis e da malária.