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Bertha Lutz e a preservação da memória de seu pai

Um museu para Adolpho Lutz

Em outubro de 1940, logo em seguida à morte de Adolpho Lutz, sua filha, Bertha, foi informada de que o prefeito Henrique de Toledo Dodsworth Filho estava interessado em criar um museu de história natural em homenagem a ele no Parque da Cidade, em construção no bairro da Gávea. Bertha visitou o local com Dodsworth e entregou-lhe o primeiro esboço do museu, que foi oficiosamente aprovado pelo prefeito. As vivências profissionais que Bertha já havia acumulado no campo da museologia permitiram-lhe dar rapidamente contornos avançados àquela idéia, que experimentou um salto de qualidade quando ela recrutou um dos expoentes da museologia norte-americana, Philip Newell Youtz, para desenvolver o projeto do museu, a ser localizado, agora, na avenida que era aberta no centro da cidade (atual avenida Presidente Vargas).

Os sucessivos nomes dados ao museu nos documentos que condensam as idéias trocadas entre a naturalista e o arquiteto denotam os rumos que o projeto tomou entre outubro de 1940 e fevereiro de 1941. O museu proposto por Bertha ao prefeito – Instituto ou Museu Municipal de História Natural Dr. Adolpho Lutz – transformou-se, ao entrar em cena o arquiteto, em Museum of Life – Proposed Memorial to Adolpho Lutz, que Bertha traduziu para Museu da Natureza In Memoriam a Adolpho Lutz. Outras denominações foram cogitadas: Museum of Life and Disease, Museum of Life and Health e, ainda, Museum of Tropical Medicine.

Os museus norte-americanos vinham adotando uma orientação que diferia do molde europeu tradicional que guiara a maioria das instituições daquele gênero, também no Brasil. A orientação denominada “democrática” almejava torná-las um instrumento de cultura do grande público, dando ênfase ao papel didático e à colaboração com os estabelecimentos de ensino por meio de conferências diárias, ambientes preparados para as crianças, bibliotecas infantis de história natural, jogos destinados ao ensino dessa matéria e passeios guiados, entre outras atividades.

O museu projetado por Youtz e Bertha Lutz teria cinco andares, com um pavilhão central em forma de octógono e sete alas dele desprendidas, que exporiam, no térreo, os materiais referentes às suas sete divisões. A divisão de microbiologia apresentaria “microprojeções de espécimes vivos, microscópio elétrico, modelos, mapas e quadros”. A divisão de “insetos e vermes” exibiria “viveiro, controle de pragas, ciclos evolutivos, papel patológico” desses animais. Os itens de exposição relacionados à terceira divisão, de “peixes, moluscos e crustáceos”, incluíam aquário, piscicultura, peixes ornamentais, hóspedes intermediários e formas larvais. “Répteis e anfíbios” constituíam a quarta divisão, cujas mostras teriam como temas “cobras venenosas e não venenosas, soroterapia, tartarugas, cágados, jacarés, lagartos, batráquios adultos e larvas”. Com relação às “aves”, a quinta divisão, interessava mostrar as formas aquáticas e terrestres, coloração e migrações. A divisão de “mamíferos” manteria um “jardim zoológico infantil” e “viveiros”, fornecendo material visual e explicações sobre “especialização, distribuição geográfica e alimentação”. A última divisão, de “plantas”, abordaria genética vegetal e agricultura química, e daria ênfase às plantas brasileiras, com subdivisões para as medicinais, alimentares e de jardim, e ainda para “plantas introduzidas segundo os continentes de origem”.

O projeto acabou sendo sepultado, talvez pela magnitude e pelo custo. É provável que representasse uma ameaça tanto ao Museu Nacional como a Manguinhos, já que absorveria atribuições de ambos, sob a autoridade de Bertha Lutz, numa localização mais central, portanto mais “visível” da capital brasileira.