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1898, às vésperas da publicação por
Ronald Ross da descoberta da transmissão da malária
das aves pelo mosquito Culex, Adolpho Lutz foi chamado
à região onde se construía nova linha de
estrada de ferro entre São Paulo e Santos, no trecho que
escalava a serra de Cubatão. Numerosos casos de uma doença
febril vinham ocorrendo entre os operários, num ambiente
muito diverso das planícies encharcadas tradicionalmente
associadas à malária. Ainda assim, Lutz verificou
ser essa a enfermidade reinante naquele lugar ao encontrar o protozoário
no sangue dos doentes. Pôs-se, então, a investigar
as matas circundantes. Uma espécie de mosquito, entre as
muitas que infestavam o acampamento, chamou sua atenção
pela avidez com que picava os trabalhadores mobilizados para a
construção da ferrovia. Lutz concluiu que se tratava
de uma nova espécie do gênero Anopheles, que Theobald,
em 1905, classificaria como Anopheles
lutzii, no subgênero Kerteszia.
Graças às observações feitas anteriormente
no Havaí sobre plantas armazenadoras de água que
serviam de habitat para pequenos crustáceos, Lutz
não demorou a perceber que o lugar provável para
o desenvolvimento das larvas daquele mosquito eram as águas
acumuladas nas bromélias,
uma vez que a região não possuía áreas
alagadas. Embora houvesse descoberto a transmissão da malária
humana por anofelinos antes da divulgação do trabalho
fundamental a esse respeito de Giovanni Grassi, Amico Bignami
e Giuseppe Bastianelli (1899), somente em 1903 Adolpho Lutz publicou
sua descoberta em Waldomosquito
und Waldomalaria.
O mosquito incriminado por ele foi renomeado em 1908 por Dyar
e Knab: passou a chamar-se Anopheles cruzii uma vez que já
existiam duas outras espécies de anofelinos batizados em
sua homenagem, o Anopheles lutzii, capturado por Oswaldo
Cruz em 1901, no Rio de Janeiro, às margens da Lagoa Rodrigo
de Freitas; e o Manguinhosia lutzii, proposto também
por Oswaldo Cruz, em 1907, e rebatizado para Anopheles peryassui
no ano seguinte, quando se verificou que esse mosquito era, na
verdade, um anofelino.
O Anopheles cruzii é o vetor primário da chamada
“malária das bromélias” que ocorre no
litoral do Estado de São Paulo, em caráter epidêmico,
e, de forma endêmica, de São Paulo ao Rio Grande
do Sul. Além de transmitir paludismo ao homem, é
o único vetor natural conhecido de malária simiana
nas Américas.
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