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1908, já com mais de cinqüenta anos, Adolpho Lutz
ingressou no Instituto Oswaldo Cruz – IOC, no Rio
de Janeiro. Aí transcorre o terceiro período
de sua vida profissional, em que realiza a aspiração
de se dedicar por inteiro à pesquisa – não
necessariamente de aplicação médica –,
o que faz até falecer, no Rio de Janeiro, em 6 de outubro
de 1940, poucas semanas antes de completar 85 anos. Graças
à sua longevidade, essa fase, iniciada tardiamente, foi
mais longa do que as duas outras reunidas: aquela em que Lutz
foi acima de tudo um clínico, e o período à
frente do instituto paulista. Por sua vez, a permanência
em Manguinhos pode ser dividida em duas partes: até 1925
preponderam as atividades de cunho médico e sanitário;
depois, muda o campo de interesses de Lutz, e ele se recolhe mais
ainda ao laboratório.
O Instituto Soroterápico de Manguinhos, criado para produzir
soro e vacina contra a peste bubônica, como o Butantan,
em São Paulo, achava-se, em 1908, num momento crucial da
metamorfose que o converteria, por várias décadas,
no centro de gravidade da medicina experimental e da saúde
pública brasileiras. Foi graças às habilidades
de Oswaldo Cruz como sanitarista, chefe de equipes e estrategista
da política institucional que o modesto laboratório
soroterápico transformou-se no dinâmico Instituto
de Patologia Experimental, logo rebatizado como Instituto
Oswaldo Cruz (março de 1908).
A bagagem extraordinária de conhecimentos zoológicos
que Adolpho Lutz levou para Manguinhos foi decisiva para a construção
de suas coleções biológicas e para o adestramento
dos jovens médicos recrutados por Oswaldo Cruz, todos na
casa dos vinte anos. Com Lutz aprenderam muitas das ferramentas
necessárias para investigar os complexos ciclos de parasitos
e de seus hospedeiros. Sua contratação coincide
com o auge da influência alemã sobre a vida científica
de Manguinhos. No intervalo entre os congressos internacionais
de higiene de Berlim (1907) e Dresden (1911), acolheu, por temporadas
de um semestre, Max Hartmann, do Instituto de Moléstias
Infecciosas de Berlim, e dois professores da Escola de Medicina
Tropical de Hamburgo, Stanislas von Prowazek, autor de importantes
trabalhos sobre os clamidozoários, e G. Giemsa, inventor
do método de coloração mais utilizado para
a observação de hematozoários. Veio, depois,
a Manguinhos Hermann Duerck, docente de anatomia patológica
da Universidade de Jena. As Memórias do Instituto Oswaldo
Cruz, inauguradas em 1909, difundiriam os trabalhos de seus cientistas,
quase sempre em português e alemão, cabendo com freqüência
a Adolpho Lutz a árdua ainda que pouco reconhecida tarefa
de traduzi-los para esse idioma, hegemônico até a
Primeira Guerra Mundial. Seu capital de relações
com universidades, museus e institutos de pesquisa europeus e
norte-americanos certamente contribuiu para consolidar o prestígio
internacional do IOC.
Durante os anos vividos em Manguinhos, Adolpho Lutz manteve-se
alheio aos dilaceramentos que marcaram a chegada à maturidade
daquela instituição, chefiada por Carlos Chagas
a partir de 1917. Produziria abundantemente sobre temas de interesse
médico, como a esquistossomose e a lepra, de interesse
puramente biológico, como os anfíbios anuros, de
interseção, como a entomologia, ou de interesse
metodológico e técnico. Em 1926, novo regulamento
dado a Manguinhos criou várias seções científicas
e ampliou o Curso de Aplicação, destinado a médicos,
biólogos e naturalistas que desejavam se especializar em
microbiologia. Lutz ensinava zoologia médica nesse curso.
Seu laboratório passou a fazer parte da seção
de mesmo nome, que tinha a seu cargo os estudos em protozoologia,
helmintologia, entomologia, de animais venenosos e veiculadores
de parasitos, além da manutenção das coleções
de zoologia médica. Em relatório escrito em 1925-1926,
Adolpho Lutz revelava grande interesse pelos tabanídeos
e nematóceros, afirmando terem adquirido tanta importância
quanto os mosquitos como transmissores de doenças humanas.
Outra área de interesse de Lutz foram as questões
técnicas relacionadas à prática laboratorial.
Em 1920, publicou artigos sobre o emprego do fenol e sobre novo
método de fechar e conservar objetos pequenos destinados
a exame microscópico (traduzido mais tarde para o inglês
como “A new method of enclosing and preserving small objects
for microscopic examination”). Em 1922, apresentou em francês
novas contribuições aos métodos de observação
em microscopia e biologia.
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