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pós
a descoberta do modo de transmissão da malária (1898-1899),
todas as atenções voltaram-se para os insetos sugadores
de sangue, principalmente os mosquitos. Se no curso da revolução
pasteuriana o antraz e, em seguida, o cólera e a febre
tifóide tinham servido de modelos para a investigação
dos agentes microbianos de doenças infecciosas, na virada
do século XIX para o XX, médicos, parasitologistas,
bacteriologistas, zoólogos, veterinários e botânicos
reconfiguraram a rede de atores engajados na busca das causas
e, sobretudo, dos possíveis transmissores alados de doenças
infecto-parasitárias, assemelhadas, agora, à malária
e à febre amarela. Teve início, então, o
período mais notável da entomologia médico-veterinária,
cujo impulso só arrefeceria em meados do século
XX.
A descoberta de Ronald Ross transformou o mosquito da malária
e outros sugadores de sangue em variáveis cruciais para
a expansão do império britânico, mas um dos
problemas enfrentados por seus administradores era a falta de
conhecimentos sobre esses insetos. A pedido do primeiro ministro
Joseph Chamberlain, a Royal Society formou uma comissão
para investigar as formas de controle da malária nas possessões
britânicas. Edwin Ray Lankester, membro dessa comissão
e diretor do Museu Britânico de História Natural,
propôs, então, o levantamento das espécies
de mosquitos existentes no mundo, para que os médicos pudessem
identificar quais transmitiam doenças ao homem. Como eram
inexpressivas as coleções de dípteros que
o Museu possuía, Lankester armou uma rede de alcance internacional
para a captura de espécimes dessa ordem de insetos.
Adolpho Lutz foi acionado pelo cônsul britânico no
Rio de Janeiro em 24 de março de 1899. Dois meses depois,
o cientista já lhe entregava uma coleção
com anotações relativas à classificação
de cada espécime e ao local em que fora coletado. O material
foi enviado a Frederick
Theobald, o zoólogo que o Museu
Britânico contratara para produzir a monografia
sobre os mosquitos do mundo. Theobald trabalhara no South-Eastern
Agricultural College, em Wye, cidade do condado de Kent, e publicara
pequeno trabalho intitulado Account of the British Flies,
naquelas circunstâncias credencial boa o bastante para a
penosa incumbência que lhe delegavam. O entomologista inglês
estabeleceu proveitosa correspondência com Adolpho Lutz,
e a colaboração entre ambos, com intensa troca de
informações, durou aproximadamente cinco anos, ao
longo dos quais foram publicados os cinco volumes da clássica
monografia de Theobald.
A avidez com que Lutz formava novas coleções e classificava
seus exemplares demonstra o quanto estava entusiasmado com aquela
atividade científica, sobre a qual já havia realizado
alguns trabalhos. Em Theobald encontrou o interlocutor perfeito,
até mesmo para seu plano de publicar um tratado sobre as
espécies de mosquitos do Brasil. Os conhecimentos e a destreza
classificatória de Lutz, por sua vez, foram de grande valia
para o mapeamento dos mosquitos feito pelo autor de A monograph
of the Culicidae or mosquitoes: mainly compiled from the collections
received at the British Museum from various parts of the world
in connection with the investigation into the cause of malaria
conducted by the Colonial Office and Royal Society.
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