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febre amarela seguia a vaga imigratória Brasil adentro,
contrariando a noção de que era uma doença
somente das planícies litorâneas, quentes e úmidas.
Em 1889, a vacina antiamarílica “inventada”
por Domingos
Freire, catedrático de química orgânica
da Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro, chegou a Vassouras,
Pombal, Macaé, Niterói e Resende, na província
do Rio de Janeiro; Juiz de Fora e Serraria, em Minas Gerais; Desengano,
no Espírito Santo; e ainda a duas cidades paulistas, Santos
e Campinas. Nesta, pela primeira vez vitimada pela febre amarela,
651 pessoas foram inoculadas pelo dr. Angelo Simões. O
próprio Freire esteve com uma delegação do
Rio de Janeiro naquele próspero centro cafeeiro. Foram
homenageados com um banquete republicano, em junho de 1889.
Durante a epidemia,
quase não restaram médicos para atender à
população: os que não morreram, fugiram em
pânico do contágio, juntamente com os moradores mais
abastados. As autoridades foram obrigadas a trazer de outras cidades
médicos dispostos a enfrentar a crise. Adolpho Lutz foi
um deles, mas permaneceu em Campinas apenas dois meses, abril
e maio, quando a epidemia estava no auge. Em julho, embarcou com
destino ao Havaí, fazendo escala em Hamburgo. Os biógrafos
são ambíguos e anacrônicos no tocante à
precoce correlação entre febre amarela e mosquitos
supostamente estabelecida por ele então. Segundo Bertha
Lutz, seu pai teria verificado que a doença alastrava-se
pelas cidades que margeavam a estrada de ferro, fato que teria
correlacionado mais tarde com a teoria culicidiana. Nas Reminiscências
sobre a febre amarela publicadas por Lutz em 1930, ele observa
que o transporte de mosquitos infectados pela estrada de ferro
esclarecia o aparecimento de vários casos esporádicos
e isolados de febre amarela em funcionários do correio
e da ferrovia e em pessoas que nunca tinham visitado Campinas.
Nas Reminiscências Lutz recorda que durante o tempo
em que esteve nessa cidade usou o mosquiteiro desde o anoitecer
e sempre que se recolhia ao hotel durante o dia, o que não
o impediu de ser picado diversas vezes.
Para Lutz, 1889 foi o “ano mais infausto” na história
moderna da febre amarela no Brasil. Durante os três meses
de verão quase não choveu e a temperatura subiu
mais que nos anos anteriores. A doença surgiu em Santos
e em Campinas. Na primeira cidade, após dez anos sem ocorrência
de casos, a epidemia foi muito forte. Em Campinas, seu desenvolvimento
foi rápido, chegando a quarenta óbitos por dia.
Avaliou-se que três quartos da população,
estimada em vinte mil habitantes, deixaram a cidade. Muitas pessoas
que regressaram antes do tempo contraíram a moléstia.
Houve cerca de dois mil óbitos, incluindo os que faleceram
em outros lugares.
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