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dolpho
Lutz desembarcou em Honolulu, capital do arquipélago
do Havaí, no dia 15 de novembro de 1889. Nomeado Government
Physician for the Study and Treatment of Leprosy, realizou
esses estudos e tratamentos na Receiving Station de Kalihi, supervisionando,
ao mesmo tempo, o tratamento mais amplo no leprosário de
Molokai. Logo contaria com o reforço de uma enfermeira
inglesa, Amy Marie Gertrude Fowler, com quem viria a se casar,
em 11 de abril de 1891, numa cerimônia
simples celebrada por um pastor da Igreja da União Central
de Honolulu.
Uma das distrações prediletas de Adolpho Lutz era
fazer excursões para estudar a flora e a fauna das ilhas.
Ele aproveitou a estada no Havaí para dar prosseguimento
às suas investigações sobre as verminoses
de humanos e animais. Iniciou também os estudos entomológicos
que embasariam sua atuação posterior como sanitarista
e que consolidariam sua hipótese da transmissão
da lepra por mosquitos. No leprosário, distinguiu-se, assim
como Amy, por não se furtar ao contato direto com os doentes,
afirmando sua postura anticontagionista.
Durante esse período, publicou diversos trabalhos que o
levaram a interagir mais fortemente com médicos, zoólogos
e bacteriologistas que vinham dando corpo ao que logo iria chamar-se
“medicina tropical”. Realizou investigações
sobre a fascíola hepática e seus transmissores,
que o levaram a estudar os caramujos existentes nas diferentes
partes das ilhas onde havia criação de carneiros.
Essas observações dariam origem, anos mais tarde,
a uma de suas maiores contribuições à zoologia
médica no Brasil: a pesquisa sobre o Schistosoma mansoni
e os moluscos transmissores da esquistossomose.
Também no Havaí, verificou que plantas armazenadoras
de água como as Freycinetias serviam de habitat
para pequenos crustáceos, observação que
teria grande importância em seu trabalho posterior sobre
a malária silvestre.
Em setembro de 1890, Lutz enviou uma carta ao Hawaiian Board of
Health anunciando sua demissão do leprosário. As
circunstâncias que o levaram a isso estavam relacionadas
a incidentes envolvendo um funcionário da Estação
de Kalihi. Lutz insurgiu-se contra a interpelação
do Conselho de Saúde local motivada por punição
imposta por Amy ao subalterno que sabotava o tratamento utilizado
pelo médico brasileiro. Consta também que Lutz teria
se rebelado contra a negativa do Conselho de conceder alta a um
homem branco que se relacionara com uma indígena e que
fora internado como leproso pelo irmão – um dos missionários
que Lutz detestava – como forma de abafar o escândalo.
É possível que os dois episódios estivessem
interligados por uma teia mais complexa de eventos, envolvendo
até mesmo as opiniões anticontagionistas que Lutz
externaria em artigo sugestivamente intitulado Leprophobia,
publicado no Journal of Cutaneous and Genito-Urinary Diseases
(1892) e na Revista Medica de São Paulo (1898).
Lutz manteve a clínica particular em Honolulu e deu prosseguimento
às pesquisas sobre a lepra e outros assuntos até
meados de 1892, tendo deixado inédito o esboço de
um tratado sobre a doença. Em 1891 publicou estudo fundamental
sobre as disenterias no CentralBlatt für Bakteriologie
und Parasitenkunde. Publicou, ainda, importantes trabalhos
sob forma epistolar, com o título “Correspondência
de Honolulu”, no Monatshefte
für Praktische Dermatologie. A correspondência
prosseguiria no segundo semestre de 1892, quando se transferiu,
juntamente com Amy, para a cidade de São
Francisco, nos Estados Unidos. Numa das cartas, descreveu
pela primeira vez as nodosidades justarticulares como lesões
sifilíticas, característica posteriormente estabelecida,
com status de pioneirismo, pelo médico francês
Jeanselme.
Adolpho Lutz retornou ao Brasil no início de 1893, inaugurando
pouco tempo depois uma nova fase de sua trajetória profissional
– talvez a mais importante – como diretor do Instituto
Bacteriológico de São Paulo.
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