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março de 1885, Adolpho Lutz deixou Limeira para trabalhar
na clínica fundada em Hamburgo,
Alemanha, pelo dermatologista Paul Gerson Unna. Sob sua orientação,
enveredou pelo terreno da bacteriologia: investigou o bacilo da
lepra e microrganismos relacionados a várias doenças
de pele. Ao regressar ao Brasil, no primeiro semestre de 1886,
Lutz mudou-se de Limeira para a capital paulista. No final de
1888, já havia tratado de 200 a 250 vítimas da
lepra,
dos quais 50 acompanharia ainda por longo tempo. Avaliou, então,
que existiam de cinco a dez mil doentes no Brasil, a maioria em
São Paulo, que considerava um dos estados mais afetados.
Não obstante se dedicasse à clínica, continuou
a publicar, especialmente na Alemanha, numerosos artigos relacionados
à dermatologia e helmintologia. Ainda em 1886, publicou
artigo sobre nova doença de pele que encontrara no Brasil
e seu primeiro trabalho sobre o micróbio da lepra, na revista
editada por Unna, Ferdinand von Hebra e Lassar, Monatshefte
für Praktische Dermatologie (atual Dermatologische
Wochenschrift), a mais importante caixa de ressonância
internacional das experiências clínicas e laboratoriais
concernentes àquela especialidade médica.
Sobre a morfologia do microrganismo da lepra marca o
início de uma série de estudos que se estenderia
por toda a sua vida, e que faria de Adolpho Lutz uma das maiores
autoridades sobre o assunto no Brasil.
À época em que se interessou pela doença,
ela estava exposta a grandes turbulências em virtude de
concepções conflitantes sobre sua etiologia, seu
modo de transmissão e sua profilaxia. Contrapunham-se,
de um lado, os defensores da hereditariedade, tese formulada pelos
médicos noruegueses Daniel
Cornelius Danielssen e Carl
Wilhelm Boeck em 1847; de outro, os partidários
da contagiosidade da doença, crença que ganhara
novo impulso desde a descoberta, em 1874, do Bacillus leprae
por outro norueguês, Gerhard
Armauer Hansen. As disputas se agravavam em razão
da dificuldade encontrada pelos bacteriologistas para cultivar
in vitro o micróbio descoberto por Hansen e replicá-lo
em animais, o que prejudicava a comprovação das
relações do micróbio com a lepra.
Tal dificuldade tornava indispensável o contato direto
com doentes para renovar as matérias orgânicas utilizadas
nos estudos sobre a morfologia e biologia do Bacillus leprae
e sobre o modo como se distribuía nos órgãos
e membros lesionados. Foi com esse objetivo que Adolpho Lutz esteve
em 1887, por curta temporada, no Hospital dos Lázaros,
no Rio de Janeiro, então um dos principais centros de tratamento
de hansenianos do país.
Nova oportunidade para dar curso a suas investigações
viria logo depois, quando Unna indicou-o ao presidente do Conselho
de Saúde do Reino do Havaí para aplicar no leprosário
recém-instalado na ilha de Molokai a terapêutica
desenvolvida pelo dermatologista alemão em Hamburgo. Lutz
esteve em Campinas em abril e maio de 1889, ajudando a combater
a epidemia de febre amarela que irrompera pela primeira vez naquela
cidade. Em julho partiu para a Alemanha e, depois de breve passagem
por Hamburgo, para providenciar tudo de que necessitaria no Havaí,
seguiu viagem para aquele arquipélago, onde desembarcou
no final de 1889.
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