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Instituto
Soroterápico de Manguinhos transformou-se em Instituto
Oswaldo Cruz no governo de Afonso
Penna (1906-1909), que sucedeu Rodrigues Alves (1903-1906)
e manteve seu diretor como chefe da Diretoria Geral de Saúde
Pública. A promoção de Manguinhos deveu-se,
em parte, à euforia insuflada na opinião pública
pelo êxito das campanhas contra a febre amarela e a peste
bubônica no Rio de Janeiro. Mas o fator decisivo que levou
o Congresso a curvar-se ao projeto de Oswaldo Cruz foi a medalha
de ouro conquistada no XIV Congresso Internacional de Higiene
e Demografia e na Exposição de Higiene anexa a ele,
em Berlim, em setembro de 1907. A peça de resistência
foi a documentação relativa à bem-sucedida
campanha contra o Stegomyia fasciata no Rio de Janeiro.
Também repercutiu muito bem no Congresso a memória
apresentada por Henrique Aragão “Sobre o ciclo evolutivo
do halterídio do pombo”, elucidando etapa até
então desconhecida do ciclo desse parasito, com importantes
implicações para a compreensão de como a
malária e outras doenças parasitárias evoluíam
no organismo humano.
Em junho de 1911 o Instituto Oswaldo Cruz brilhou novamente, agora
na Exposição
Internacional de Higiene realizada em Dresden. Aí contou,
sobretudo, o trabalho completo sobre a doença produzida
pelo Tripanossoma cruzi, que ficaria internacionalmente
conhecida como Doença de Chagas. Essa descoberta, que consolidou
a protozoologia como uma das principais áreas de pesquisa
do Instituto Oswaldo Cruz, deveu-se não apenas ao talento
de Chagas como a qualidades intrínsecas àquele coletivo
que acumulara já quantidade expressiva de trabalhos relacionados
à profilaxia da malária, à evolução
de parasitos em hospedeiros, à sistemática e biologia
de insetos transmissores de doenças humanas e animais.
Em 1909, Gaspar
Viana ingressou no IOC e assumiu os trabalhos em anatomia
patológica, a cargo, até então, de Henrique
da Rocha Lima, que viajou para a Alemanha para trabalhar no Instituto
de Patologia de Jena e, depois, no Instituto
de Medicina Tropical de Hamburgo. Gaspar Viana descobriu
o valor terapêutico do tártaro emético para
a cura das leishmanioses, abrindo caminho para seu uso no granuloma
venéreo e na esquistossomose. Além disso, verificou
que a úlcera de Bauru e as “úlceras bravas”
do Amazonas eram, na verdade, formas de leishmaniose. Gaspar Viana
realizou importantes trabalhos sobre a blastomicose e outras micoses
e sobre a evolução do tripanossoma cruzi nos tecidos
do homem e dos animais. As pesquisas em helmintologia ficaram
a cargo de outro recém-contratado do IOC, José Gomes
de Faria, que inventariou diversas espécies novas de trematódeos,
publicando, em 1910, a descoberta do Ancylostoma braziliense.
A partir de 1907, o programa de pesquisas e serviços do
IOC voltou-se cada vez mais para as demandas de novos “clientes”
– governamentais ou particulares – e para o estudo
e profilaxia de doenças endêmicas em regiões
do interior do país que estavam à margem das prioridades
sanitárias do Estado. Entre 1907 e 1918, excluindo-se demandas
episódicas como a do soro anticolérico, a pauta
industrial de Manguinhos evolui de 11 para 26 produtos, entre
soros, vacinas e outras substâncias biológicas.
Capítulo à parte são as viagens científicas
a diversas regiões brasileiras e a países vizinhos,
implementadas por Oswaldo Cruz durante a década de 1910
e mais intensamente entre 1911 e 1913. Essas expedições
prosseguiram mesmo depois de sua morte, num movimento de “redescoberta”
do Brasil. Articuladas ao programa de pesquisas e serviços
do IOC, permitiriam mapear a flora, a fauna e o quadro de doenças
endêmicas ou não entre os animais e as populações
humanas de diversas partes do país.
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