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lepra figurava entre as doenças de notificação
compulsória no Regulamento Sanitário elaborado por
Oswaldo Cruz como diretor geral de Saúde Pública,
em 1903. O pressuposto contagionista era suavizado pela consideração,
no regulamento, de que insetos eram suspeitos de transportar e
inocular o germe da lepra. Seis anos depois (1909), o II Congresso
Internacional sobre a Lepra, em Bergen, Noruega, ratificava as
decisões rigidamente contagionistas e segregacionistas
tomadas no Congresso de Berlim, em 1897, sem deixar de aprovar
recomendação britânica de que fosse elucidado
o enigma da transmissão da lepra por insetos.
Em relatório escrito no auge do saneamento do Rio de Janeiro,
Oswaldo Cruz pôs em evidência essa doença:
23 casos notificados em 1904 fundamentavam seu temor de que o
mal de Hansen estaria se alastrando perigosamente pelo país.
Oswaldo Cruz propôs, então, que o Lazareto da Ilha
Grande fosse transformado numa colônia onde seriam internadas
as vítimas da doença para viver e trabalhar num
mundo à parte, igualmente hierarquizado em classes sociais.
A idéia de isolar os leprosos numa ilha, como em Molokai
– ou como já se fizera um século antes em
Bom Jesus, ali mesmo na baía da Guanabara – foi debatida
e aprovada no VI Congresso Brasileiro de Medicina e Cirurgia,
realizado em São Paulo, em 1907. Em 1913, quatro anos depois
de deixar a direção da saúde pública,
Oswaldo Cruz, em entrevista publicada em O Imparcial, relançou
o projeto de isolamento das vítimas da lepra numa colônia
agropecuária na Ilha Grande.
Em 1922, Carlos Chagas e o presidente da República, Epitácio
Pessoa, colocaram a pedra fundamental do “leprosário
federal” (futuro Leprosário de Curupaiti) em Jacarepaguá,
então zona rural da cidade do Rio de Janeiro. O gesto pretendia
demonstrar que o recém-criado Departamento Nacional de
Saúde Pública colocaria em prática as diretrizes
recomendadas pelos congressos internacionais de Berlim e Bergen,
e pela Conferência Americana de Lepra, realizada naquele
mesmo ano na capital federal, sob a presidência do próprio
Chagas.
Persistiam, no entanto, os debates sobre o isolamento ou não
dos hansenianos, e logo organizações anti-lepra
se espalhariam por todo
o país. Após a Revolução
de 1930, a facção que advogava o isolamento compulsório,
sem concessões, das vítimas do mal de Hansen assumiu
o comando das políticas
de saúde nesse setor, não apenas no plano federal
como em São Paulo e em outros estados da Federação.
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