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entrevista
de Oswaldo Cruz divulgada em O Imparcial, em 1913, desencadeou
um movimento que envolveu todas as sociedades médicas do
Rio de Janeiro. A Comissão de Profilaxia da Lepra, organizada
em meados de 1915, foi proposta pelos médicos baianos Belmiro
Valverde e Juliano Moreira à Associação Médico-Cirúrgica
do Rio de Janeiro, que designou também Paulo da Silva Araújo
e Henrique de Beaurepaire Rohan Aragão. Outros membros
foram indicados pela Academia Nacional de Medicina, Sociedade
de Medicina e Cirurgia, Sociedade Médica dos Hospitais
e Sociedade Brasileira de Dermatologia, e entre os delegados desta
figurava Adolpho Lutz. Carlos Pinto Deidl, diretor-geral de Saúde
Pública, foi escolhido para presidir a Comissão.
Formaram-se grupos para analisar aspectos específicos do
problema da lepra no país, e os trabalhos prolongaram-se
até 1919, dando origem a vários relatórios
e pronunciamentos públicos. Silva Araújo e Valverde
emitiram parecer sobre “Lepra e casamento”. Werneck
Machado e Emilio Gomes, sobre “Lepra e profissão”;
Adolpho Lutz e Henrique
Aragão, sobre “Lepra e imigração”;
Eduardo Rabello e Silva Araújo Filho estudaram as relações
da doença com o domicílio, e Juliano Moreira e Fernando
Terra, com o “isolamento”. O levantamento de dados
epidemiológicos seria a base da ofensiva profilática,
já que a saúde pública desconhecia a cifra
real de hansenianos existentes na capital federal e nos estados.
Não obstante isso, a doença era considerada uma
grande ameaça às populações urbanas.
A mobilização contra a lepra era, na verdade, a
expressão de um movimento mais profundo de reorientação
da agenda sanitária do país para as chamadas endemias
rurais, movimento que daria origem ao Departamento Nacional de
Saúde Pública (DNSP) em 1920. Este seria dirigido
para a ancilostomíase, a doença de Chagas, a malária
e a febre amarela. Lepra, tuberculose e sífilis passaram
à órbita das políticas públicas em
saúde, sem deixarem de ser causas abraçadas pela
filantropia
e por organizações da sociedade civil, sobretudo
a lepra, em nome da qual seriam desencadeadas grandes mobilizações
em diversos estados brasileiros a partir do final da década
de 1910.
As “Conclusões aconselhadas pela Comissão
de Profilaxia da Lepra para servir de base a um projeto de lei”,
compostas de onze itens, embasariam, em larga medida, as ações
adotadas pelo governo contra a lepra, a partir da década
de 1920. Os debates que precederam a formulação
desse documento trouxeram à tona a antiga oposição
entre hereditariedade e contágio. A hegemonia indiscutível
do segundo partido foi desafiada por Adolpho Lutz, líder
de uma terceira corrente, que explicava a transmissão da
lepra pela intervenção dos mosquitos.
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