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contracorrente dos contagionistas, Lutz sustentou a convicção
de que a lepra era transmitida por mosquitos (portanto, não
contagiosa) até os últimos trabalhos, escritos às
vésperas de sua morte. A palestra a esse respeito que proferiu
na Rádio
Sociedade foi publicada, em março de 1932, no
Boletim da influente Sociedade de Assistência aos Lázaros
e Defesa contra a Lepra, constituída em 1926 por senhoras
da alta sociedade paulista. Lutz voltou a defender seu ponto de
vista entre setembro e outubro de 1933, no âmbito de conferência
realizada no Rio de Janeiro para a unificação e
uniformização da campanha contra a lepra em todo
o território nacional. Seu texto foi publicado no Jornal
do Commercio e no Jornal do Brasil.
Três anos depois, Lutz publicou em alemão, português
e inglês uma revisão da literatura sobre a transmissão
da lepra, que foi objeto de resenhas em revistas médicas
francesas e italianas. Recebeu cartas
em apoio às suas idéias de diversas partes do mundo.
Ao Congresso Internacional do Cairo, em março de 1938,
enviou comunicação intitulada “No control
of leprosy without anti-mosquito campaign”.
Essa doença foi, ainda, o tema dos dois últimos
trabalhos do cientista que, já completamente cego, teve
de ditá-los à sobrinha. “A transmissão
da lepra pelos mosquitos e sua profilaxia”, lido no Sétimo
Congresso da Pan American Medical Association, em 1938, foi publicado
no ano seguinte. As “Regras indispensáveis de profilaxia
anticulicidiana sugeridas ao Serviço Sanitário do
Estado de São Paulo” permaneceram inéditas.
As recomendações profiláticas feitas então
por Lutz eram mais detalhadas: os leprosários deveriam
manter em seus quadros um entomologista ou médico com qualificação
para executar medidas profiláticas anticulicidianas e estudos
sobre a fauna local de dípteros e hematófagos; os
doentes febris e aqueles cuja doença progredisse rapidamente
seriam isolados em enfermarias providas de telas; a anamnese dos
doentes deveria incluir informações concernentes
à sua relação com os mosquitos nos lugares
onde provavelmente houvessem adquirido a infecção;
as habitações dos leprosos deveriam ser revestidas
de telas, evitando-se cantos escuros, pinturas sombrias e outros
esconderijos para os mosquitos; ainda que os de hábitos
domésticos fossem os principais suspeitos, não convinha
instalar leprosários em lugares infestados por espécies
de brejo ou silvestres.
As investigações de Adolpho Lutz sobre a lepra não
só estiveram presentes nos projetos de lei de cunho sanitário
defendidas por sua filha, Bertha, quando foi deputada pelo Partido
Autonomista do Distrito Federal, como despertaram o interesse
de outros pesquisadores de Manguinhos.
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