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Limeira, preocupado em não perder o vínculo com
a medicina européia, Lutz pensou em estudar questões
que poderiam ser relevantes para seus pares no Velho Mundo. Embora
as relações entre clima, raças e doenças
constituíssem um tema atraente para os europeus, durante
esse período Lutz voltou-se, sobretudo, para os parasitos
que causavam males a sua heterogênea clientela, e para os
animais com os quais ela convivia. Com esses trabalhos Lutz participa,
portanto, do nascimento da própria helmintologia como disciplina
autônoma. Até então, alguns parasitas eram
conhecidos, especialmente os de maior porte, mais fáceis
de observar, e nada se sabia sobre sua transmissão e ação
patogênica. Muitos supunham que a sua presença fosse
benéfica, outros pensavam exatamente o contrário.
Ao longo de sua carreira como cientista, Lutz irá publicar
quarenta trabalhos sobre os helmintos, afora as freqüentes
referências a problemas helmintológicos em relatórios
e notas de viagem.
No artigo sobre a ancilostomíase, publicado em 1885, Lutz
começa a divulgar os resultados dessa linha de investigações:
examina o ancilóstomo e a doença por ele ocasionada,
sob os aspectos histórico e geográfico, morfológico,
biológico, clínico, terapêutico e profilático.
Havia controvérsias sobre o papel desses helmintos na patologia
que muitos ainda classificavam como hipoemia tropical, encarando
os vermes como conseqüência da doença produzida
por fatores climáticos associados à má alimentação,
à dormida ao relento e à depressão física,
entre outros motivos. Lutz confirmou as verificações
de Grassi,
Leuckart e outros acerca do ciclo de vida livre do helminto, e
estudou as condições que favoreciam a evolução
do parasita, desde a fase de ovo, eliminado com as fezes do hospedeiro,
até a fase de larva enquistada, identificando o hematofagismo
do verme adulto, fato então controvertido entre os parasitologistas.
Outro tema que pesquisou foi o ciclo evolutivo do Ascaris
lumbricoides e a doença que ocasionava no hospedeiro
humano. Trabalhando independentemente, em 1887 chegou às
mesmas conclusões de Grassi e comprovou a infestação
do homem pela ingestão dos ovos embrionados do verme, negando,
desta forma, a existência de um hospedeiro intermediário,
hipótese defendida por Leuckart e outros investigadores.
Lutz preocupou-se com a epidemiologia das helmintoses humanas
– ancilostomose, oxiurose, ascaridiose e tricocefalose –,
formulando conceitos que, na maioria, são válidos
ainda hoje. Sobre a ascaridiose, indicou a freqüência
das infestações domiciliárias e as epidemias
familiais muito antes de outros observadores. Estudando as tênias,
verificou que a Tenia solium era mais comum na população
de origem alemã do que entre os brasileiros, fato que atribuiu
aos diferentes hábitos alimentares. Lutz foi ainda o primeiro
a registrar infestações humanas de Hymenolepis
nana e H. diminuta no Brasil.
No período em que viveu no Havaí, continuou a pesquisar
helmintoses de animais domésticos, destacando-se seu estudo
sobre a Fasciola hepatica. Estudou os moluscos de água
doce das ilhas do Havaí, determinou as espécies
que serviam de hospedeiras intermediárias do verme e as
condições que favoreciam a proliferação
do parasita entre o gado. Esse trabalho, como mais tarde lembrará
o próprio Lutz, foi muito útil para a realização
de sua pesquisa mais importante na área: o estudo do Schistosoma
mansoni e dos moluscos responsáveis pela propagação
da esquistossomose.
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