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junho de 1900, desembarcou em Cuba a delegação de
bacteriologistas chefiada por Walter
Reed e integrada pelos doutores Jesse
William Lazear, James
Carroll e Aristides
Agramonte. As tropas norte-americanas, que haviam ocupado
a ilha em fevereiro de 1898, vinham sofrendo consideráveis
baixas em conseqüência da febre amarela. Em 25 de junho,
Reed distribuiu as tarefas entre os membros da comissão
conforme as instruções do cirurgião geral
George Sternberg, cuja maior preocupação era refutar
a descoberta de Sanarelli, recém-confirmada por uma comissão
médica do Marine Hospital Service. Somente em 11 de agosto
Lazear iniciou experiências com mosquitos fornecidos por
Carlos
Juan Finlay, enquanto Carroll e Agramonte prosseguiam
os estudos sobre o bacilo icteróide. No fim daquele mês,
foram obtidos os dois primeiros casos positivos de infecção
pelo mosquito incriminado pelo médico cubano. Em 25 de
setembro ocorreu a trágica morte de Lazear em conseqüência
de uma picada acidental. As investigações foram,
então, bruscamente reorientadas do bacilo icteróide
para a hipótese da transmissão culicidiana da febre
amarela, e, mais do que depressa, Walter Reed apresentou “Nota
preliminar” a esse respeito à 28ª reunião
da American Public Health Association, em Indianápolis,
nos Estados Unidos, em outubro de 1900. Em seguida, tomou a si
a tarefa de completar os trabalhos iniciados por Lazear.
As experiências que Reed concebeu foram realizadas entre
novembro de 1900 e fevereiro de 1901 no Campo Lazear, nas imediações
de Quemados, em Cuba. Voluntários recrutados entre imigrantes
e soldados norte-americanos cumpriram quarentena antes de serem
picados por mosquitos infectados. A primeira série teve
por objetivo confirmar que eram os hospedeiros intermediários
do “parasito” da febre amarela. Dos seis voluntários
picados, cinco contraíram a doença. A experiência
seguinte transcorreu numa sala dividida por tela metálica
em dois ambientes. Num foram colocados mosquitos infectados e
um voluntário que se deixou picar várias vezes.
No ambiente protegido permaneceram duas testemunhas, por vários
dias, sem contrair a doença. A intenção era
desfazer a arraigada idéia de que o ar, veículo
de miasmas e germes, pudesse transmitir a febre amarela. A experiência
provava que uma habitação só era infectada
quando continha mosquitos em condições de transmitir
o “parasito”.
Na segunda série de experiências, análogas
àquelas realizadas um século antes pelos partidários
da não contagiosidade de febre amarela, três voluntários
ficaram confinados, durante vinte noites consecutivas, num quarto
repleto de objetos impregnados de vômitos, fezes e urina
de doentes falecidos em conseqüência da doença.
Os voluntários nada sofreram. Invalidou-se, assim, mais
uma vez a crença na contagiosidade dos fomites e os procedimentos
dela decorrentes: desinfecção de objetos supostamente
contaminados pelos doentes.
Essas experiências formam um divisor de águas na
história da febre amarela. Afastaram a saúde pública
das intermináveis querelas sobre sua etiologia e viabilizaram
ações eficazes contra as epidemias nos núcleos
urbanos litorâneos da América. Foi importante a confluência,
em Cuba, dos médicos norte-americanos, voltados para um
programa de pesquisas bacteriológicas, com os ingleses,
que exploravam a fértil problemática dos vetores
biológicos de doenças. Em 1900, Walter Myers e Herbert.
E. Durham, da recém-fundada Liverpool School of Tropical
Medicine, iniciaram uma expedição ao Brasil para
investigar a febre amarela. Cuba foi uma escala dessa viagem que
resultou na implantação de um laboratório
que funcionou intermitentemente na Amazônia até a
década de 1930. Durham e Myers traziam uma hipótese
genérica – a transmissão da febre amarela
por um inseto hospedeiro –, que ganhou maior consistência
com as informações recolhidas naquela ilha. Se a
comissão norte-americana não tivesse enveredado
por esse caminho, talvez a teoria de Carlos Juan Finlay houvesse
sido confirmada pelos ingleses, no norte do Brasil.
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