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estudos do químico francês Louis Pasteur sobre o
mundo dos microrganismos – especialmente suas investigações
sobre o papel destes como causadores de diversas doenças
– provocaram, nas últimas décadas do século
XIX, verdadeira revolução na forma de constituição
dos conhecimentos e práticas médicas e, de modo
geral, na abordagem dos problemas relacionados à saúde.
As pesquisas em cristalografia iniciadas em 1848 levaram Pasteur
ao mundo orgânico: à controvérsia sobre a
geração espontânea dos seres vivos a partir
da matéria inanimada, contestada por ele; em seguida, ao
estudo dos processos fermentativos (vinhos, cervejas, laticínios),
até chegar ao domínio das doenças infecciosas,
animais e humanas.
A "ciência dos micróbios" proporcionou
à medicina meios muito mais eficientes para enfrentar o
flagelo das epidemias, intensificado com a expansão das
aglomerações urbanas e do comércio mundial.
As contribuições de Pasteur foram decisivas para
a criação de técnicas para a prevenção
de doenças e processos infecciosos – como a assepsia
e a antissepsia, fundamentais na cirurgia – e para o desenvolvimento
de produtos profiláticos e terapêuticos, de uso animal
e humano.
A revolução pasteuriana impulsionou e conferiu maior
legitimidade às disciplinas biomédicas que transcorriam
nos laboratórios. A inauguração do Instituto
Pasteur de Paris, em 1888, marcou a consagração
dos trabalhos científicos de seu fundador e o reconhecimento
formal da microbiologia como campo disciplinar com conceitos,
métodos e técnicas próprios. Criado através
de subscrição pública internacional –
até mesmo do imperador brasileiro D. Pedro II – para
ser um estabelecimento produtor da vacina anti-rábica desenvolvida
por Pasteur, o instituto logo expandiu consideravelmente suas
instalações e atividades. Além de promover
a pesquisa e o ensino da microbiologia, passou a atuar na fabricação
de produtos biológicos destinados à medicina humana
e à veterinária, sobretudo vacinas e soros. Embora
contasse com verbas do Estado, o instituto adquiriu autonomia
administrativa e financeira, valendo-se dos recursos provenientes
de doações privadas, da venda de seus próprios
produtos e da prestação de serviços a setores
médicos e à indústria. Transformado num respeitado
centro de pesquisas biomédicas, o Instituto Pasteur passou
a promover a difusão de pesquisas experimentais de ponta
na França e em vários países nos quais foram
criados institutos filiais.
Para além de seu impacto nas ciências biomédicas
e na atividade profissional de médicos no mundo inteiro,
as descobertas de Pasteur e seus discípulos influenciaram
amplamente os sistemas de pensamento e as práticas sociais.
Entre os comportamentos que se tornaram imperativos no cotidiano
das populações destacam-se, entre inúmeros
exemplos, a vacinação das crianças, a fervura
do leite, a esterilização dos bicos de mamadeiras,
o tratamento da água e dos esgotos e a limpeza de feridas.
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