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ermologia
e Dermatologia são termos criados na segunda metade do
século XVIII para designar a constituição
da pele e de outras membranas do corpo como objetos de estudo
para médicos que se dedicavam à anatomia e à
patologia. Os tratados médicos publicados desde então
revelaram número crescente de aspectos anatômicos
e fisiológicos de órgãos e tecidos, incluindo
a pele, que deixou de ser encarada como mero envelope do corpo
para tornar-se, também, sede de lesões capazes de
explicar processos patológicos. Muitos dos médicos
que estudavam a anatomia da pele consideravam seus sinais patológicos
como manifestação de processos orgânicos internos,
mais profundos – as poucas doenças de pele atribuídas
a agentes locais externos não constituíam uma área
à parte no âmbito da medicina.
No começo do século XIX, Paris era o centro hegemônico
da clínica, tanto a geral como a voltada às doenças
de pele, em particular, esta exercida especialmente no Hospital
Saint-Louis, onde Jean-Louis Alibert dedicou um setor a esse tipo
de doenças.
O estabelecimento de relações entre a patologia
cutânea e o organismo, e a delimitação de
fronteiras entre dermatoses decorrentes de causas externas e as
de etiologia interna avançaram por obra de clínicos
da chamada ‘’escola francesa’’ e de pesquisas
realizadas a partir da década de 1870 em cidades germânicas
que assumiram a liderança nesse e em outros campos da medicina.
Ocupa lugar de destaque a Escola de Viena,
onde Ferdinand
Hebra e seu sucessor Heinrich Auspitz ensinavam dermatologia.
Paul Gerson Unna foi um dos discípulos de Hebra e Auspitz.
Desde meados do século XIX novos horizontes vinham sendo
abertos às ciências da vida pela patologia celular
e pelo desenvolvimento de métodos de precisão para
o estudo, em laboratório, dos fenômenos e estruturas
observáveis nesse plano do diminuto. Os conhecimentos adquiridos
sobre a anatomia da pele articulam-se, assim, aos estudos histopatológicos,
isto é, estudos em nível microscópico de
lesões em tecidos. Muito importantes para a preparação
de amostras de tecidos levadas ao microscópio foram as
técnicas de coloração. Associadas ao uso
do micrótomo e aos aperfeiçoamentos da ótica
e da microscopia, essas técnicas incrementaram a capacidade
de visualizar e descrever, com precisão, os elementos que
estruturavam os objetos nessa escala minúscula. Tais sinergias
favoreceram a eclosão de investigações relacionadas
à microparasitologia das doenças de pele. Elas precederam
as descobertas de Pasteur e Koch, e sofreram tremendo impulso
à época em que os caçadores de micróbios
puseram-se a explorar as doenças humanas e animais. Especificamente
com respeito à lepra, eram os dermatologistas que estavam
na vanguarda das pesquisas bacteriológicas, histológicas
e anatomopatológicas.
Um marco na constituição da especialidade foi o
Congresso
Mundial de Dermatologia, realizado em Paris, em outubro
de 1889, no âmbito da exposição internacional
comemorativa do centenário da Revolução Francesa,
em que se inaugurou a Torre Eiffel, símbolo da pujança
da indústria e da cultura francesas. Entre os autores das
setenta comunicações apresentadas no Congresso,
presidido pelo venereologista Philippe Ricord, figuravam celebridades
como Kaposi, Unna, Radcliffe-Crocker, Pringle, Boeck, Fournier,
Besnier, Hallopeau, Brocq e Wickman. A emergente dermatologia
brasileira fez-se representar através de Silva Araújo
– um dos integrantes do comitê de organização
do evento – e ainda Pizarro Gabizo, Bruno Chaves, Oscar
de Bulhões e Adolpho Lutz. Este discursou, como representante
de São Paulo, no jantar de encerramento, a 10 de outubro,
sob os clarões de uma invenção muito recente,
as lâmpadas elétricas incandescentes de Thomas Edison.
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