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dos principais centros de tratamento da lepra no Brasil era o
Hospital
dos Lázaros, fundado em 1763 por frei Antônio,
bispo do Rio de Janeiro. Administrado pela Irmandade do Santíssimo
Sacramento da Candelária, o hospital foi instalado em São
Cristóvão, numa propriedade que pertencera aos jesuítas
e que fora confiscada pela Coroa quando se expulsou essa ordem
religiosa de Portugal e de seus domínios.
A contratação do médico José Jeronymo
de Azevedo Lima para dirigir o hospital, em 1879, assinala uma
mudança na abordagem da lepra. Seus antecessores, em particular
o dr. João Pereira Lopes, eram anticontagionistas e adotavam
uma perspectiva multicausal, conciliando diversas etiologias:
alimentar, climática e hereditária, entre outras.
Havia quem acreditasse que certas profissões, como as de
ferreiro e mineiro, contribuíssem para tal predisposição.
Outros pensavam que a lepra era uma doença da mesma natureza
da sífilis, provocada por um “vírus”
– entenda-se “veneno” – que atuava sobre
o sangue. Teoria correlata dizia que a sífilis nada mais
era do que uma lepra degenerada.
A chegada de Azevedo Lima ao hospital coincide com uma reviravolta
tanto no plano do discurso como no das práticas curativa
e preventiva. Esse médico procurou restaurar a crença
na contagiosidade da lepra. Como eram então escassas as
autoridades que defendiam o contágio, respaldou-se nos
estudos recentes de Hansen, mas admitiu que não eram coisa
“certa e demonstrada”. Durante a década de
1880, Azevedo Lima experimentou no hospital grande número
de medicamentos de efeitos e propriedades diferentes, inclusive
o ácido fênico e o óleo de chalmugra (único
tratamento medianamente eficaz até a introdução
em 1942 do Promin, um derivado da sulfona desenvolvido por Guy
H. Faget). Azevedo Lima tornou rotina a desinfecção
das enfermarias e patrocinou, em 1887, as tentativas infrutíferas
feitas por Adolpho Lutz, naquele hospital, de cultura in vitro
do bacilo de Hansen e de transmissão experimental da lepra
a animais.
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