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criação
dos institutos Butantan e Oswaldo Cruz foi determinada pelos mesmos
fatos: a chegada da pandemia de peste bubônica ao Brasil
pelo porto de Santos, em 1899, e a circunstância de que
não estavam disponíveis ainda no mercado internacional
os imunobiológicos – o soro para curar os pestosos
e a vacina, para prevenir a doença – desenvolvidos
pouquíssimo tempo antes no Instituto Pasteur de Paris e
em outros laboratórios europeus. Assim que ocorreram as
primeiras mortes suspeitas entre imigrantes recém-desembarcados
em Santos, o Serviço Sanitário do Estado de São
Paulo e a Inspetoria Geral de Higiene Pública – o
órgão federal de defesa sanitária –
enviaram àquela movimentada cidade portuária especialistas
em diagnósticos bacteriológicos. Adolpho Lutz mandou
Vital Brazil Mineiro da Campanha, seu assistente desde 1897. O
diagnóstico feito por esse médico, corroborado por
Adolpho Lutz, Eduardo Chapot Prévost e Oswaldo Cruz, gerou
controvérsias e foi contestado por clínicos e comerciantes
de Santos.
Ainda que Manguinhos e Butantan fossem, a princípio, laboratórios
voltados apenas para a peste bubônica, evoluíram
em direções muito diversas no que concerne à
natureza de seus trabalhos científicos e suas ações
profiláticas. Em São Paulo, o laboratório
antipestoso foi criado em 1900, na fazenda do Butantan, como seção
do Instituto Bacteriológico, tendo Lutz incumbido Vital
Brazil de organizá-lo e dirigi-lo. Mas logo
o Butantan procurou firmar como sua área de excelência
o ofidismo,
que Lutz começara a estudar pouco tempo antes. Foi em torno
desse eixo, que manteve a instituição voltada para
a soroterapia, que gravitaram e se expandiram progressivamente
as especialidades no terreno da pesquisa, das ações
profiláticas e educativas e da produção industrial.
Isso conferiu ao Butantan sua marca de excelência e originalidade,
sobretudo depois que Vital Brazil comprovou a especificidade dos
soros antiofídicos conforme o gênero da serpente
agressora. Opôs-se, assim, ao cientista francês Albert
Calmette, inventor de um soro antiofídico que supunha de
eficácia indiscriminada, mas que, na realidade, obtinha
resultados apenas contra serpentes Naja naja.
Desligado do Instituto Bacteriológico em 23 de fevereiro
de 1901, o Butantan passou a chamar-se Instituto Soroterápico
do Estado de São Paulo. Em junho entregava ao Serviço
Sanitário os primeiros tubos de soro antipestoso. A partir
de então, teve de disputar com outras repartições
do Serviço Sanitário as verbas escassas que o governo
estadual destinava à Secretaria do Interior, e que esta
rateava entre vários outros serviços. O Instituto
permaneceria por muitos anos nas construções precárias
da fazenda do Butantan.
Vital Brazil não se cansava de reclamar delas, mas só
em 1910 o governo paulista autorizou sua ampliação.
Com a ajuda do médico Abdon Petit Carneiro, Vital Brazil
começou a preparar o Butantan para a produção
em escala de soros antipeçonhentos, lançando, também,
as bases dos estudos que julgava indispensáveis para dar
sustentação técnica a essa meta: definição
de processos de dosagem, elaboração de provas de
paraespecificidade, experimentos de neutralização
de venenos diversos por soros homólogos e heterólogos
visando a eventual preparação de tipos adequados
às diversas regiões do Brasil e, quem sabe, da América.
Para viabilizar o projeto, Vital
Brazil precisou obter adesões de autoridades, profissionais
liberais e proprietários de terras, e de todos aqueles
que tinham ligação direta ou indireta com a produção
rural, pois eram estes as vítimas mais freqüentes
dos acidentes ofídicos. Já a partir de 1903 os relatórios
do Instituto indicam o crescimento incessante da demanda de soro
antiofídico.
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