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de cuidar das estafantes rotinas laboratoriais associadas às
doenças epidêmicas que se sucediam na agenda das
autoridades sanitárias, e às inúmeras solicitações
dos clínicos da cidade e do estado, Lutz prosseguiu as
investigações sobre as afecções de
pele, por guardarem relação com uma ou outra dessas
demandas, ou com a zoologia médica, pela qual o cientista
nunca deixou de ter grande interesse pessoal.
Nos relatórios escritos durante os anos em que esteve à
frente do Instituto Bacteriológico, e em versões
resumidas que foram publicadas na Revista
Médica de S. Paulo, Lutz traçou
o quadro das dermatoses existentes nas cidades e zonas rurais
sob sua jurisdição. Além de prosseguir os
estudos sobre os vermes nematódeos do gênero Ascaris,
determinou, pela primeira vez, a presença de herpes tonsurante
no gato; estudou a biologia de aracnídeos que causavam
danos às populações locais, como os ácaros
e carrapatos; pesquisou a presença de coccídios,
que vitimavam os coelhos das criações, a de sarcosporídios
em músculos do porco, do gambá, da lebre indígena
e da saracura. Observou hemosporídios em rãs, lagartos,
tartarugas, jacarés e cobras, descrevendo, em todos esses
estudos, várias espécies novas. Estudou, também,
os argasídeos, aracnídeos hematófagos encontrados
nos pombais, e o Dermayssus avium, piolho da galinha.
Lesões cutâneas produzidas no homem por parasitos
levaram Lutz a se debruçar sobre o Sarcoptes scabiei, agente
da sarna, o Phtirius inguinalis, o Pediculus vestimentis,
o Pediculus capitis, e, ainda, o Pulex penetrans
(hoje classificado como Tunga penetrans), o incômodo bicho
que infestava os pés daquela multidão descalça
que circulava pelas ruas e campos de São Paulo.
Em agosto de 1899, o cientista publicou detalhado estudo sobre
um caso de miíase, classificando, pela primeira vez, as
espécies de insetos que causavam aqueles danos horríveis
aos tecidos e cavidades do corpo humano ao usá-los como
ninho para seus ovos e pasto para suas larvas: a Licilia cyanoventris
ou Compsomia macelaria, muito semelhante à Sarcophaga
carniaria, vulgarmente conhecida como varejeira. Estudou
a ação patogênica do parasito no homem e verificou
experimentalmente seu ciclo biológico no cachorro.
No período entre 1889 e 1908 transcorreram ainda os estudos
de Adolpho Lutz em protozoologia, abrangendo protozooses humanas,
de outros vertebrados e de invertebrados. Em 1889, no Centralblatt
für Bakterologie, Parasitenkunde
und Infektionskrankheiten, de Jena, ele descreveu,
pela primeira vez, os mixosporídios encontrados na vesícula
biliar de batráquios, ordem de animais a que retornaria
no fim da vida. Em 1901, publicou o resultado de seus estudos
sobre as hemogregarinas de algumas cobras – a jibóia,
a cobra d’água, a jararaca, a cascavel e a cobra
cipó. Investigou especialmente a classe dos esporozoários.
Além do estudo sobre a malária aviária, publicou
cinco trabalhos (três em parceria com Alfonso Splendore)
relativos aos microsporídios parasitas de insetos, helmintos
e peixes, pertencentes ao grupo de Nosema bombycis, agente
etiológico da célebre doença das lagartas
da seda.
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