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Giovanni
Battista Grassi nasceu em Rovellasca, região da Lombardia,
Itália, em 27 de março de 1854. Ingressou na Faculdade
de Medicina da Universidade de Pavia em 1872, onde estudou com
alguns dos nomes mais importantes da biologia do século
XIX, como Camillo Golgi e Giulio Bizzozero. Desenvolveu, ainda
como estudante, importantes estudos sobre vermes endoparasitos.
Demonstrou que a ancilostomíase era transmitida pela pele
e não por via oro-fecal e descobriu que as infecções
provocadas por ancilóstomos podiam ser diagnosticadas procurando
ovos dos parasitas nas fezes dos pacientes.
Depois de sua formatura em 1878, passou a trabalhar na Estação
Oceanográfica de Messina, fundada pelo zoólogo alemão
Nicolaus Kleinenberg (1842-1897). A seguir, transferiu-se para
Heidelberg, na Alemanha, onde estudou com o cientista Carl Gegenbaur
(1826-1903). O período que passou nos laboratórios
de Gegenbaur e Otto Bütschli, entre 1879 e 1880, permitiu
a Grassi aperfeiçoar sua formação como evolucionista
e aprofundar-se no estudo da citologia dos protozoários.
De volta à Itália em 1881, ingressou na Estação
Zoológica de Nápoles, onde deu continuidade às
pesquisas sobre biologia marinha, que iniciara em Messina. São
desse período duas importantes monografias, uma sobre o
filo Chaetognatha, formado por um pequeno grupo de animais que
habitam os plânctons marinhos, e outra sobre o desenvolvimento
da coluna vertebral nos peixes – Lo sviluppo della colonna
vertebrale nei pesci –, ambas publicadas em 1882.
Em 1883 assumiu a cátedra de zoologia e anatomia comparada
da Universidade de Catânia, na qual permaneceria por mais
de uma década. Realizou nesse período novas investigações
helmintológicas, principalmente sobre vermes cestóides.
Particularmente relevantes foram suas observações
sobre o ciclo biológico da Hymenolepis nana, helminto
cestódeo conhecido como “tênia anã”
do homem. Ainda em Catânia, principiou o estudo do ciclo
reprodutivo das enguias e publicou seus primeiros trabalhos como
entomólogo. Investigou o processo de determinação
das castas entre as térmitas e criou uma nova ordem de
aracnídeo, Palpigrada, na qual incluiu a espécie
Koenenia mirabilis.
Em 1885, tornou-se professor catedrático também
da Universidade de Roma, na qual realizaria a descoberta mais
importante de sua carreira: a demonstração da transmissão
da malária aos seres humanos por mosquitos do gênero
Anopheles. A comprovação de que mosquitos
anofelinos eram capazes de provocar a malária nas aves
fora feita por Ronald Ross em 1897, faltando ainda confirmar a
hipótese de sua transmissão por esses vetores também
aos humanos.
Em Roma, Grassi encontrou um grupo de pesquisadores que vinham
estudando a malária por vários anos. Dele faziam
parte Angelo Celli, Amico Bignami, Giuseppe Bastianelli e Ettore
Marchiafava. Grassi e seus colaboradores descreveram a evolução
do Plasmodium no mosquito e no corpo humano. Em fins
de 1898, após uma série de observações
entomológicas, epidemiológicas e experimentais,
identificaram na espécie Anopheles claviger (Anopheles
labranchiae) o responsável pela transmissão
da malária ao homem.
Nos anos seguintes, Grassi manteve com Ronald Ross uma duradoura
controvérsia sobre quem teria sido o primeiro a decifrar
o mecanismo de transmissão da doença. A polêmica
sobreviveu até 1902, ano em que Ross foi agraciado com
o Prêmio Nobel de Medicina por suas investigações
sobre a malária. Desiludido com a indicação,
Grassi decidiu voltar-se para outras áreas de pesquisa.
Desse período, destacam-se seu importante estudo sobre
o Phlebotomus papatasii e a série de artigos que
dedicou ao ciclo de vida do parasita da videira (Phylloxera
vastatrix), que no início do século causava
danos incalculáveis às plantações
na Europa. Interessou-se ainda pelo estudo de doenças com
forte impacto social, como aquelas provocadas por envenenamento
por fósforo. Também desenvolveu trabalhos sobre
a incidência de bócio, endêmico em algumas
regiões dos Alpes italianos, e sobre os polimastiginos,
que vivem em simbiose com as térmitas e que haviam sido
um de seus temas de pesquisa em Catânia.
Com a eclosão da Primeira Guerra Mundial e o retorno da
malária endêmica na Itália, Grassi convenceu-se
da necessidade de retomar seus estudos sobre a enfermidade e seu
vetor. Forneceu, assim, uma significativa contribuição
ao explicar a presença de anofelinos em regiões
do país não afetadas pela malária. Estudou
a população de Anopheles em Orti di Schito,
próximo a Nápoles; em Massarossa, na província
de Lucca; e em Chignolo Po, perto de Pavia. Após três
anos de estudo, concluiu que nesses lugares existia uma “raça
biológica” – atualmente chamada de espécie
crítica – que não picava os humanos, somente
os animais.
Grassi faleceu em Roma no dia 4 de maio de 1925, aos 71 anos de
idade. Foi enterrado na pequena aldeia de Fiumicino, onde, em
seus últimos anos de vida, liderara uma campanha de controle
da malária.
Veja
a correspondência
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