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No Havaí e na Califórnia

Lepra no Havaí: Leprosário de Molokai e Estação de Kalihi

Os drs. Arthur Mouritz e William Hillebrand publicaram entre 1835 e 1848 as primeiras observações clínicas sobre a lepra no Havaí. Hillebrand atribui a disseminação da doença que os nativos chamavam de Mai-Paké, doença chinesa, ao aumento de imigrantes dessa nacionalidade motivado pela descoberta das minas de ouro na Califórnia.

Em 1850, Honolulu foi elevada à categoria de cidade e, no mesmo ano, o rei Kamehameha criou o Conselho de Saúde. Já no início da década de 1860, era considerada alarmante a freqüência de novos casos de lepra. Mouritz e Hillebrand foram incumbidos de recensear os doentes no arquipélago e de propor as medidas profiláticas adequadas. Aconselhado a isolar as vítimas da lepra, o rei nomeou uma comissão para redigir uma lei, votada em janeiro de 1865. Dava poderes ao Conselho de Saúde para isolar todos os leprosos tidos como infectantes; os agentes policiais e judiciários podiam deter qualquer suspeito e o conduzir à repartição sanitária para ser examinado e, se necessário, confinado. A lei autorizava o Conselho de Saúde a fundar um hospital, e dava-lhe o poder de exigir trabalho dos doentes e mesmo o seqüestro de seus bens para cobrir as despesas do isolamento.

Em junho de 1865, o Conselho decidiu fundar dois estabelecimentos: um em Honolulu, para confinamento de casos leves, e outro em Molokai, para os incuráveis. Em novembro, foram inaugurados em Kalihikai, nas imediações de Honolulu, o Kalihi Hospital e a Detention Station, e ainda naquele ano foram internados 141 leprosos. Em janeiro de 1866 desembarcaram os primeiros doentes em Molokai, ilha de relevo montanhoso situada a sudeste de Oahu e a nordeste de Maui. A primeira colônia leprosa insular do mundo, que serviria de modelo ao movimento internacional em favor da reclusão em instituições congêneres das vítimas do mal de Hansen, ficava em uma península que se projetava sobre o mar, na costa norte, a mais exposta aos ventos. O único lado da península que não dava para o oceano era bloqueado por íngreme cordilheira que formava a espinha dorsal da ilha. Elevando-se a cerca de 1.200 metros de altitude, era transponível apenas por uma trilha. De 1870 a 1900, 4.739 doentes foram confinados em Molokai. O máximo de internações – 1.213 doentes – e os mais violentos levantes contra essa prática ocorreram em 1890, quando Lutz estava no Havaí.

Em 1875, foi fechado o Hospital de Kalihi. Os suspeitos de portarem a doença passaram a ser detidos em repartições policiais e daí removidos para Molokai. Em 1889, a cerca de duas milhas de Honolulu, foi reconstruído o Hospital de Kalihi, no qual Lutz iria trabalhar.

A estação receptora de Kalihi ocupava um terreno de aproximadamente oito acres, rodeado por cerca dupla de madeira com oito pés de altura. Foi dividida em duas partes, uma para os leprosos que recebiam o tratamento especial ministrado por Lutz, outra para os suspeitos de serem portadores da doença; eram mantidos ali e tratados até que manifestassem sinais inequívocos de lepra – sendo, nesse caso, confinados em Molokai –, ou até que ficassem curados, readquirindo, então, a liberdade.