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Em Limeira: a clínica e a pesquisa

Adolpho Lutz chegou a Limeira em junho de 1882 e lá permaneceu até março de 1885. A cidade era um importante centro cafeeiro, canavieiro e cerealífero, então com cerca de quatro mil habitantes, entre os quais uma expressiva colônia suíço-alemã.

Em Limeira, Lutz conquistou grande reputação como clínico e fama de exímio diagnosticador, sendo constantemente requisitado para atender em fazendas e regiões distantes. No exercício da atividade, chocou-se mais de uma vez com a mentalidade escravocrata e o tratamento dispensado aos negros.

Nesse mesmo período, realizou importantes investigações tanto no domínio da clínica como no da helmintologia. Buscava elucidar o ciclo evolutivo, a transmissão e a patogenia de helmintos que parasitam animais domésticos e o homem. Enviou correspondência a esse respeito para o Correspondenz-Blatt für Scheweiz Aerzte. Em 1885, viu os primeiros casos de uma doença de carência que descreveria, no ano seguinte, num congresso de médicos e naturalistas na Alemanha, como casos de acrodinia infantil ou pelagra, isso numa época em que as avitaminoses ainda não eram conhecidas pela medicina.

Em 1885, Lutz publicou estudo muito importante sobre a ancilostomíase, Ueber Ankylostoma duodenale und Ankylostomiasis, numa série de artigos que saíram na coleção de lições de clínica médica de Richard von Volkman, editada em Leipzig. Depois foram publicados, em português, em O Brazil-Médico e na Gazeta Médica da Bahia. Em 1888, foram reunidos em livro os artigos que o tornaram mais conhecido entre seus pares no Brasil.

Possivelmente, Lutz foi o primeiro a estudar o ciclo do Rhabdonema strongyloides no Brasil (1885-1886) e a descrever a patologia que ocasionava a estrongiloidíase nas comunidades humanas. Em 1888, publicou no prestigioso Centralblatt für Bakterologie, Parasitenkunde und Infektionskrankheiten uma série de artigos sobre afecções provocadas por nematódeos intestinais no homem – ancilostomíase, oxiuríase, ascaridíase e tricocefalose. Lutz preocupava-se muito com a divulgação dos métodos de diagnóstico dessas helmintoses, ressaltando a importância da adoção generalizada do exame de fezes.

Seus trabalhos também enfocavam os aspectos epidemiológicos das helmintíases humanas, correlacionando-as com os hábitos de vida e alimentação das populações imigrantes. Lutz ressaltava o papel do solo na propagação dessas doenças e na alta incidência de infestações domiciliárias e de epidemias familiais.

Suas investigações sobre os vermes alargaram o repertório de patologias estudadas pela escola tropicalista baiana e abriram caminho para o estudo das doenças de animais no Brasil, campo no qual foi pioneiro. O trabalho com que inaugurou as pesquisas veterinárias foi a descrição, publicada em 1885, de uma espécie de Rhabdonema encontrada no porco doméstico. Dois anos depois, chamou atenção para o provável papel das pulgas como hospedeiros intermediários do Dipylidium caninum, papel esse que havia sido atribuído apenas aos piolhos do gênero Trichodectes. Lutz seguiria investigando as helmintíases mais comuns em animais domésticos, descrevendo, entre outras, a estefanurose e a cisticercose do porco, e a Fasciola hepatica. Determinaria o hospedeiro intermediário desse trematódeo no Brasil e encontraria novos hospedeiros silvestres para o Dioctophime renale, parasita dos rins de vários animais domésticos.